Miguel Torga
Parque Infantil
Joga a bola, menino!
Dá pontapés certeiros
Na empanturrada imagem
Deste mundo.
Traça no firmamento
Órbitas arbitrárias
Onde os astros fingidos
Percam a majestade.
Brinca, na eterna idade
Que eu já tive
E perdi,
Quando, por imprudência,
Saltei o risco branco da inocência
E cresci.
Coimbra, 3 de Maio de 1954, Miguel Torga, Parque Infantil
Instrução Primária
Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.
Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um á-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...
Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...
S. Martinho da Anta, 18 de Abril de 1962, Miguel Torga, Instrução Primária
Gosto da poesia de Miguel Torga. Então, aproveitei a inspiração que a leitura do post de Maria Felismina me provocou...
Estes são dois dos poemas que eu costumava ler aos meus alunos dos 3º. e 4º. anos.
O último, foi lido numa Comunhão Pascal, pelos alunos pertencentes ao nosso grupo de trabalho (Mila, Eva, Ana Luísa, Leonor, ..., ...)
Eu sei que não devem ter entendido... que não se enquadram nessa faixa etária... Mas alguma coisa deve ter ficado, nem que fosse num, só, único, aluno, para mim, ou melhor, para nós, já valeu a pena!
Às vezes, sinto saudades destes desafios...