Sempre gostei de andar pelo campo à procura de flores e folhas para enfeitar a casa, colocando-as em jarras.
Quando era mais nova, não olhava à longevidade da planta, cortava as que mais me impressionavam pela cor e originalidade. Hoje, sou mais selectiva e prefiro as de longa duração...
Não se deve falar nem pensar mal das pessoas que já partiram. Vamos aprendendo que ninguém é perfeito e que as circunstâncias da vida, por vezes, fazem-nos mais carrancudos, impacientes e senhores do nosso nariz.
Ser pai de doze filhos é obra. E sendo a obra feita quase toda no masculino, pensava-se e dizia-se que ainda era muito mais difícil. Muiiito macho. Entretanto, descobriu-se que, afinal, é mesmo o pai que, em última instância determina o género do bebé. Mas o que interessa é que, naquele tempo, era competência do pai, somente, e ponto final.
Era com grande orgulho que nos dias de festa, Natal e Páscoa, os rapazes desfilavam por ordem decrescente de idade, escadas acima, em direcção ao coro da igreja. As mulheres jovens e não só, disfarçadamente, miravam a bela equipa de lindos e educados rapazes que, raras vezes, percorriam os caminhos da aldeia. Meu pai, nesses dias, também os acompanhava, e, com certeza, fazia-o a transbordar de alegria, orgulho e felicidade.
No final da missa, minha mãe não podia perder tempo com grandes esclarecimentos ao mulherio que a abordava para saber pormenores sobre os seus filhinhos. Sei que conversava com esta e aquela, alegre e apressada, porque havia o almoço próprio do dia, que só ela tão bem sabia confeccionar.
O que conversavam com o meu pai, não sei. Já seria conversa de homens... Ou não.
Um dia meu pai partiu... Pensava eu que não ia ser tão difícil, assim. Mas o mundo desabou. Aí, compreendi que a vida de pai não é nada, nada fácil. E que a vida sem ele nunca mais foi a mesma coisa.
Quando os primeiros sinais de Alzheimer surgiram, ela olhava o espelho e interrogava-o: O que está esta velha aqui a fazer? E, olha, está a imitar-me!...
Acontece a qualquer pessoa fazer este tipo de comentáros. Não é necessário estar doente.
Embrenhados em pensamentos e emoções, realizamos as nossas tarefas do dia a dia, com intervalos risonhos, divertidos e também de sonhos. Movemo-nos com a força e a vontade, próprias, enchemo-nos do nosso sentir, e, deste modo, projectamos mil caminhos como que não houvesse idade. À nossa maneira, ao nosso ritmo vamos evoluindo, sempre preocupados em entender quem somos, o que fazemos... Porque o que queremos é, essencialmente, ser felizes.
Quando eu ainda era muito jovem, minha mãe dizia-nos que os espelhos mentiam, que nos enganavam. Talvez ela quisesse desviar nossa atenção. Ai a vaidade! Era um pecado mortal... Hoje acredito que mentem, que nos enganam. E que, felizmente, não somos o que vemos.
Apesar de "sempre haver uma criança ou adolescente em cada um de nós", muitas das vezes, apetece-me perguntar ao espelho:
O que é que esta velha anda a fazer? Quem é que ela quer imitar ou enganar?...
Desde que o meu escritor favorito partiu, tenho lido autores um pouco de modo avulso, eles e eu vamo-nos esbarrando e esse tem sido o motivo da minha escolha.
No fim de semana, um livro chamou-me a atenção, não pelo título, mas pela autora. Na estante, um pouco desarrumada, por cima de um lote de livros, encontrava-se o nome da escritora Luísa Costa Gomes. Só a conhecia da escrita infantil. Aguçou-me a curiosidade e pus-me à descoberta.
Vi logo quem ali o colocou. Uma das "pós- graduações" que uma filha tem é sobre Artes da Escrita. Daí, este livro se cruzar comigo- A Pirata. Um romance de acção e aventura. A vida de uma mulher, uma maria rapaz por destino, conveniência, necessidade, aventura... Mas que nunca deixou de ter um olhar e sentimentos femininos, quando as circunstâncias do acaso da vida assim o permitiam.
Adorei ler esta história aventurosa de Mary Read, pirata das Caraíbas.
É para todas as idades, e, ainda, acrescento, para todos os géneros. Aconselho.