José Saramago
Depois de alguns dias à beira-mar, estou novamente por cá. Já tinha alguma saudade e curiosidade em usar e espreitar o que envolve esta ferramenta... Mas, enfim, não é coisa sem a qual não possa sobreviver...
Queria aqui exprimir a tristeza, a saudade que já sinto das palavras certas que identificam nossos pensamentos, devaneios, os sonhos, a vida... só ele o sabia fazer como que tudo surgisse ao correr da "pena", sem esforço algum. E a nós... obriga-nos a estar atentos, porque os diálogos sucedem-se como que sejam de forma oral, sem o dito travessão, ponto de interrogação... com que ele tanto embirrava! Agora, resta-nos a obra.
Os dois últimos livros são muito diferentes dos outros já publicados. Não gostei tanto... Mas não deixam de fazer parte da minha pequena biblioteca. É, sem dúvida, José Saramago o escritor que mais se destaca, olhando na perspectiva de número de livros por autor.
Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.
Excerto do livro Levantado do Chão, Pág. 59, Editora Caminho