Abril e as pequenas memórias
E o dia começou como outro dia qualquer. À pressa, saí de casa para não chegar atrasada às aulas.
Já a meio de uma aula, alguém muito feliz, de sorriso apertado, disfarçando, segreda-me: o marido da professsora foi preso. Ele era dos maus. Houve um golpe de estado... E mandava-me olhar para a cara da professora. Olhei e reparei, mas não entendi nada...
Voltei a olhar, e analisei cada expressão. Ela estava tão calma. Era aloirada, bonita, dócil... Naquele tempo, eram poucos os professores com estas caraterísticas, de conversarem com os alunos, tirarem dúvidas, e, até, sorrir...
Em silêncio, senti muito, lamentei, e pedi para que ela não fosse presa. O marido seria diferente, com certeza...
De tarde, já não mais lembrei professores, muito menos as aulas. Na Avenida Marechal Gomes da Costa, hoje, a Avenida da Liberdade, toda a turma juntou-se à multidão para gritar até mais não poder:
O povo unido jamais será vencido!