E era uma vez...
De costas viradas, ela caminhava pelos passeios, passadeiras, largos e travessas, um parque. Sempre em frente. Sempre de costas viradas para o sol, de olhos embaçados, protegidos por óculos escuros, caminhou, caminhou... Já com o sabor de Outono, o sol aquecia a nuca, as omoplatas... Um bem estar físico fazia-se sentir. E ela seguia. Sempre.
Uma saudade, como que um desespero, invadia-a e convidava-a a mudar de percurso.
-Não sei- pensou- Não devemos de voltar ao local onde fomos felizes- dizem.
Há que se decidir. Rápido, é já ali. A rua, o palácio. A anca rodou para a direita, o pé esquerdo, no ar, ziguezagueou, mas o direito fincou pé e, desconsertada no seu jeito, endireitou costas e seguiu. Sempre em frente. Atravessou toda a parte baixa da cidade. Entreolhava, por vezes, seu reflexo nas montras, só para ver sua postura. Costas direitas, ombros longe das orelhas. E as casas ao longe, a paisagem ao longe. Nada a prendia.
O sol acompanhou-a como um anjo da guarda. E se fosse isso? Olhou a montra. Não viu asas. Era o sol. Temperou-a com uma boa dose de energia e depois, na volta, obrigou-a a caminhar de frente para ele, e a desligar sua mente irrequieta, mesquinha, egoísta, enviando-lhe, directamente ao seu olhar, a luz já pálida e cansada de um dia...
Seguiu para casa. À direita, à esquerda, em frente... Era assim que tinha de ser.
*perto do céu