-Quando eu morrer, não vai haver quem reze por nós.
Era Verão. Tempo de férias grandes.
Numa parte da varanda, sentados ou de pé, olhávamos o céu.
Tanto Mistério! A estrada de Santiago, estrelas e não estrelas, as cadentes, as ursas, mais outras constelações... A Lua sempre mudando sua forma, e exibindo o homem, castigado, por trabalhar ao domingo.
Quando for grande, vou desvendar a imensidão do universo...
E já era iniciado o quinto mistério. Uma a uma as contas do terço eram rezadas, e nem sequer me apercebera do tempo.
Depois, seguia-se uma fiada de orações: ao Anjo da Guarda, a S. Judas Tadeu, a Nª Srª Disto e Daquilo... Para proteção de seus filhinhos, pela paz no mundo, pelas almas do purgatório, pela consciência até à hora da morte...
Olhando o céu, noite após noite, sempre tentava decifrar outros Mistérios... Ano após ano.
Hoje quero soprar de mansinho:
Pela força e energia, pela capacidade de superar, pela paciência... Por tudo.
Estejas onde estiveres, obrigada. E todos os dias elevo meu pensamento para ti e para todos os nossos.
Ainda me surpreendo ao ver esta imagem. Por mais que queira fazer destas habilidades com a actual máquina fotográfica, não é possível. Aconteceu naquele momento e ficou gravado.
Uma noite, no campo, entre o arvoredo.
Na altura, não soube ler... Quiçá, um prenúncio de Páscoa em quarentena?...
"... A maior arte das coisas que dizemos e fazemos não são necessárias. Se conseguires eliminá-las, terás mais tempo e tranquilidade. Pergunta-te a cada momento: «Isto é realmente necessário?»..."
Marco Aurélio (Imperador Romano)- Do livro, Meditações
*entardecer em Moscoso, Cabeceiras de Basto, em 29 Dezembro, 2019