Preparei me para a viagem sem grande expectativa... O pequeno grupo, (uma amiga, sua filha e neta) convidou-me para esta aventura.
Era tentador, o convite; simpático e amigo, o grupo; e por tudo isto valeria a pena conhecer esta cidade.
E não me enganei. Divertimo-nos bastante e aproveitámos bem o tempo, apesar das nossas diferenças quanto a faixas etárias 🥰.
Só choveu um dia. Andámos muito a pé... Cruzámos com gente simpática, à exceção dos dois motoristas que nos levaram do aeroporto ao hotel e depois, à vinda, do hotel ao aeroporto.
Não mais entrou pelos portões verdes do cemitério para visitar seus familiares.
Era o seu aniversário, ontem, 11 de Maio. Uma festa que só ela sabe organizar.
Subimos a Montanha- o Nariz do Mundo. Tudo a preceito. Tudo com requinte, apesar da distância dos grandes centros e da simplicidade do restaurante ...
Porque, da mala do carro, saíram cestas de malvas, castiçais e velas brancas, caixinhas e dedicatórias. Poemas...
E a toalha de xadrez, como pano de fundo, só podia contrastar e reforçar o bom gosto da aniversariante.
Sem querer descrever discursos e presentes, ementa e sorrisos... Um ramo era segurado em suas mãos. Ela observava-o, apontava aquela e aqueloutra- as pétalas-, nomeando o nome das flores. Encantada... São lindas! E sorriu para mim. Talvez, certificando-se se teria sido eu quem o comprara.
Regressámos. Sua mãe a seu lado. Debilitada, apesar da jovialidade que quer demonstrar. São 94 anos já feitos.
De repente, ela diz:- Não avisei o caseiro, este ramo era lindo para deixar aqui. Mas não consigo.
"Aqui", era o cemitério, por onde passávamos no momento.
Desde que o irmão morrera, havia 6 anos, nunca mais lá entrara. Deixou de os visitar. Pai, tia e esse seu irmão.
Prontamente nos oferecemos para levar o ramo de flores ao jazigo onde eles moram. Ela hesitou, a voz embaçou... Mas parou o carro.
Saímos, à pressa, eu e outra amiga, ambas, outrora, amigas de seu irmão. Passámos os portões entreabertos. Ansiosas, procurámos os nomes e os rostos desbotados pelo tempo, e achámos.
Lindos, sem dúvida alguma. Substituímos a água suja do vaso e colocamos o ramo de flores, aquele que a fez sorrir, que a encantou... E que agora se juntou às pessoas mais queridas, que a viram nascer e crescer...
Quando entrámos no carro, ela soluçava, silenciosamente, não queria que sua mãe se apercebesse. -Tão lindos que eles estão, lá nas fotos- dissemos.
Outra amiga, a Maria Luísa dizia-lhe:- Decide-te. Vai lá. Acaba com esse sofrimento...
E elas foram. Eu, a mãe e a outra amiga deixámo-nos ficar.
O carro aquecia, elas demoravam. Saí e fui espreitar... saíam abraçadas, soluçando. Corri de braços abertos. Entrelaçámo-nos e chorámos, alto. Ninguém nos ouvia.
Só o irmão, lá encima, piscava o olho, e sorria, ao seu jeito.
Pelo menos, que a força e a coragem permaneçam, sempre que os queira visitar...
A viagem mais recente foi a Lisboa. Entre amigas, por lá andámos. Como éramos quatro, quando nos deslocávamos para pontos mais distantes, usávamos o taxi. O preço compensava.
O alojamento saiu-nos barato e muito agradável para o nosso repouso noturno. Visitámos o Museu MAAT. Comemos o pastelinho de Belém e visitámos o Mosteiro dos Jerónimos. Ao Castelo de S. Jorge, a viagem foi feita de eléctrico, depois descemos a pé. O Bairro Alto à noite. O Príncipe Real, o jardim e cafezinho na esplanada, as lojas e a casa Pau Brasil. A Avenida da Liberdade. O Chiado. A Praça do Comércio...
O tempo esteve bastante húmido. Os cabelos, os mais ondulados, arrepiaram, mas não deixámo-nos de fotografar ... Fotos e mais fotos. Tudo acabou bem. Até um dia, Lisboa.
O fim de semana associado ao feriado do dia 25 de Abril resultou em mini-férias, mas entre amigos. Éramos cinco casais.
Instalámo-nos em Vila Nova de Milfontes e daí percorremos e saboreámos cada pedaço da linda Costa Vicentina. Risos e conversas entrelaçados na amizade que une os homens (maridos) já há longa data e que, também, se estendeu até nós, mulheres.
Simplesmente bonito, é o que me apetece dizer...
No regresso ao norte, não poderíamos esquecer os chocos fritos em Setúbal e uma visita por alguns locais desta cidade.
Casadas, livres e desimpedidas. Só, à primeira vista, é que parece um paradoxo...
Madrid foi o nosso destino. Ainda no aeroporto, apanhámos o Metro em direcção à Gran Via. Aí, localizava-se a rua onde "coabitaríamos" durante três dias. Guardámos as nossas bagagens e logo saímos à conquista da cidade.
Caminhávamos... O sol e o céu imenso brilhavam e envolviam-nos num abraço. Os edifícios, majestosos e de bela arquitectura, especados, observavam-nos e acenavam, parecia... Como adolescentes, no modo de expressar, dávamos gritinhos de felicidade: -Estamos em Madrid! Estamos em Madrid! O ar fresco, os agasalhos, as visitas aos museus, parques, ruas e praças, toda a sua história, provocaram uma subida substancial de temperatura...
Ui!... O sentimento que percorreu todo o meu ser... Não há palavras para descodificá-lo. Como é maravilhoso a liberdade, o desapego às nossas coisas: À casa. À família. À cidade onde moramos...
Os horários são outros, os interesses também o são. Há uma vontade e alegria que nos empurra e incentiva a viver, a caminhar, a descobrir, a admirar. A espantar. Coisas que, muitas vezes, estão adormecidas e que despertam.
Na hora de regressar é bom. Sentimos necessidade disso. O cansaço. Saber que nos esperam... Por saudade ou por necessidade de organização. Não importa. Estamos cá. De volta.
Há palavras que nos custam pronunciar mais do que outras. Penso que deve ser devido ao tal currículo oculto que cada um possui. Enviar beijinhos ou enviar abraços? Dar e receber beijinhos ou abraços? Gestos mais ou menos usuais que cada um semeia e colhe no dia a dia.
Os abraços mais deliciosos são dados por crianças! São espontâneos, quase sempre, apertados, carinhosos, puros...
Há excepções. Quase há um mês, fui abraçada por um adulto. Todo o gesto senti-o como estivesse a ser abraçada por uma criança. Mas vi lágrimas e risos por entre palavras de disfarce. Que não tenha sido o último. Espero mais...