Quando estivemos em Budapeste, o natal aproximava-se...
(Berlim será a seguinte. Falta pouco. )
*A última foto. Em frente ao parlamento, junto ao rio Danúbio. Para que a memória nunca se apague. Abuso, maus-tratos, desumanidade... Estremecemos de horror ao avistarmos este memorial. Tão discreto para quem não olha e repara...
Registando elevações ou depressões com seus rios ou afluentes que umas vezes transbordam, outras, parecem ressequidos e/ou cansados de intempéries...
Não há pressa em avistar o mar. Não há pressa que o sol brilhe, nem que a lua, iluminada por ele, surja no seu bailado feiticeiro.
Assim vai a história construindo-se de pequeníssimas estorietas, reparo. Parece que o sonho partiu e quer abalroar-nos de vazio ou absorver-nos em poeira. Cegando-nos, devagarinho e querendo-nos emburrecer, perdemo-nos do ideal de cada vida nossa.
Qual ideal???...
Quero sacudir-me... Se puder, deixar-me ser! Como Exemplo, como Maior, como Mãe, como Humano.
Entusiasmar por pequeninos acontecimentos, sorrir até os cantos da boca me doerem, fazer projectos, e, se puder, cumpri-los...
Viajar, abraçar gente que gosto, sem precisar de dizer que a amo.
Correr avançando degraus. Sentir-me num corpo sem idade.
Não precisar explicar com palavras o que canta o coração, mas, e, se puder, compreendê-lo.
Já passou uma década, talvez. A máquina fotográfica não sei se ainda existe... Se está por Lisboa ou qualquer outro local...
Gosto deveras desta foto. Numa formação sobre fotografia de rua, o dia estava de chuviscos. Apesar de gostar da chuva para bem temperar, nesse dia, dispensava-a...
Codorno é Natal. Dezembro. Em tons acastanhado, dourado e rosado. Duro e suculento. Parece nunca amadurecer. Resistente às intempéries, às penicadelas dos pássaros e às dentadas nossas...
Ontem fui ao campo e lembrei-me que, para o natal, faltava pouco e também me faltavam os codornos. Assados ou em compota são deliciosos. Sabor único. Só quem os saboreou em criança consegue sentir todo o paladar, cheiro, textura. E eu nunca quero quebrar esta minha tradição seja ela verdadeira ou de sonho de criança.
Se eu não fosse à aldeia, iriam ficar por lá, esquecidos, caídos e eu nunca mais me perdoaria. Eles fazem parte da mesa de Natal, são os corta sabores de toda a doçaria da época.
O pessoal adora os meus codornos, quem já os provou, claro...