Cá entre nós
Quando os primeiros sinais de Alzheimer surgiram, ela olhava o espelho e interrogava-o: O que está esta velha aqui a fazer? E, olha, está a imitar-me!...
Acontece a qualquer pessoa fazer este tipo de comentáros. Não é necessário estar doente.
Embrenhados em pensamentos e emoções, realizamos as nossas tarefas do dia a dia, com intervalos risonhos, divertidos e também de sonhos. Movemo-nos com a força e a vontade, próprias, enchemo-nos do nosso sentir, e, deste modo, projectamos mil caminhos como que não houvesse idade. À nossa maneira, ao nosso ritmo vamos evoluindo, sempre preocupados em entender quem somos, o que fazemos... Porque o que queremos é, essencialmente, ser felizes.
Quando eu ainda era muito jovem, minha mãe dizia-nos que os espelhos mentiam, que nos enganavam. Talvez ela quisesse desviar nossa atenção. Ai a vaidade! Era um pecado mortal... Hoje acredito que mentem, que nos enganam. E que, felizmente, não somos o que vemos.
Apesar de "sempre haver uma criança ou adolescente em cada um de nós", muitas das vezes, apetece-me perguntar ao espelho:
O que é que esta velha anda a fazer? Quem é que ela quer imitar ou enganar?...