Catarse, será?
O tempo passa devagar. A cada passo, recordo o que acontecia há um ano: muita esperança misturada de desespero, tristeza.
Nunca gostei de sentir esperança.
Percorríamos muitos quilómetros para tornar mais leve a doença, para diminuir despesas e cansaço, para não desperdiçar tempo... Íamos intercalando na ajuda.
No princípio, houve muito desânimo. Recostado no assento inclinado para trás, olhos fechados, quase não se segurava, nem falava. Assim era cada dia, cada viagem.
A radioterapia e a quimioterapia terminaram e ele já sentia melhoras, mais peso, mais ânimo. Até ligou-me, depois de o termos deixado em casa, a agradecer o que fizemos e, também, satisfeito por não ter havido percalços...
Pausa.
Segunda fase de tratamentos. Pleno Verão. Os tratamentos não resultavam. Os mais lúcidos, logo perceberam para onde ele caminhava. Eu não quis entender e ele também não. Esperança. A tal esperança que não gosto de sentir... Tudo foi um passatempo, um entretenimento.
Mais novo nove anos que eu, o meu menino, o meu protegido, diziam. Em famílias grandes, os irmãos mais velhos têm sempre um protegido. Ou um aliado. Nos jogos, na entreajuda, nas quezílias...
E em Setembro, deixou-nos. Há pouco, ele tinha cuidado da mãe. Ela também tinha partido uns mesitos antes.
Estes dias, recordo-o em todos os espaços onde estou. No campo. Na praia. Nas nuvens... Apesar do esforço presente no dia a dia: pensar e imaginar, o mínimo possível.
Outros dias e outras partidas se seguirão. É assim em famílias grandes.
*Uma frase que somos obrigados a ler, se frequentarmos esta praia: