Pensava eu, erradamente, que não teria qualquer chance de voltar a ver publicado um livro, um novo romance de Saramago.
É, comprei-o. O entusiasmo para iniciar a leitura demorou. Acompanhou-me vários vezes. Ia e vinha intacto. Um dia aconteceu... E não mais consegui desgarrar-me até que o livro terminasse. Encheu-me de vontades, reflexão, sentido crítico.
O romance ficou inacabado. Mas o que contém é tão intenso. Como em outros livros, fez-me sorrir, apesar do tema tão pertinente que é abordado- o armamento.
Apenas vou referir-me aos dois protagonistas. Lá estão, o homem e a ex-mulher. Ela, com carácter pacifista, inteligente; ele, obediente, um bom trabalhador. Mas é necessário ser mais que isso. Orientado por ela, vai tentando investigar, na fábrica onde trabalha, aquilo que tanto a aflige ...
Saramago e o seu bom senso deixou expresso como terminaria o romance... Então, depois da protagonista tanto se esforçar para que seu marido fosse diferente, reconhece que não valeu de nada esperar tal mudança...
-"Vai à merda!" É a expressão que melhor encaixa para concluir esta obra. E descansem, é a única expressão pecaminosa que Saramago usa.
Uns dias por Lisboa e tive a oportunidade de visistar a Casa dos Bicos - Sede da Fundação de José Saramago.
Uma escadaria quase íngreme leva-nos ao 1º. piso. As palavras escritas nos degraus distraiem-nos e encaminham-nos directamente ao 2º. piso. Mas não faz mal, descemos e começámos pelo início. -Apenas quero adiantar um pormenor, antes de ir para Lisboa, fui a uma consulta por causa de uma possível gripe, parti medicada, andei por lá medicada...
E eu não consegui conter emoções; transbordei. A garganta apertou-se; o peito dilatou; os olhos traíram-me, rasaram-se de água; eu tentei desviá-los de outros. Absorvi todo o espaço impregnado de presença do escritor.
E, mais uma vez, concluí, eu, claro, que Saramago é um escritor único. A maturidade, a sabedoria, a clareza das suas palavras, o decifrar de coisas que nos passam ao de leve ou no fundo de nós, ele escreve-as de forma leve e fluida.
Na saída, disse que estava emocionada, o senhor respondeu-me com um sorriso:- Ainda bem.
O melhor livro que li?... Todos devem ser lidos para compreendermos a sua escrita.
A tosse, essa, ainda não passou... Declaro que este post não é o resultado de qualquer efeito secundário da medicação...
Hoje, Saramago faria 90 anos. Quem se habituou à sua escrita sente necessidade de saborear, de vez em quando, a sabedoria que ele soube transmitir nas suas palavras, ao longo do seu tempo. São tantos os pensamentos e citações que abundam nos Média, escolher um ou dois é complicado...
Nesta fase da vida encontro-me mais susceptível a este tema, daí a minha escolha...
"A vida, que parece uma linha recta, não o é. Construímos a nossa vida só nuns cinco por cento, o resto é feito pelos outros, porque vivemos com os outros e às vezes contra os outros. Mas essa pequena percentagem, esses cinco por cento, é o resultado da sinceridade consigo mesmo."
Era uma vez um escritor que incomodava muita gente...
Era uma vez a mulher forte que existia em cada romance...
Era uma vez pedacinhos de vida num filme...
Era uma vez...
"José e Pilar", duas pessoas "vivendo a vida". E eu, sentada, como que de uma ficção se tratasse, assistindo ao desenrolar de seus gestos, conversas, risos, silêncios, acontecimentos... cheios de ternura, espontaneidade, respeito, cumplicidade, amor...
Um filme que o Cineclube de Guimarães passou no Palácio Vila Flor, já há algum tempo.
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago, foi o livro que li nestas férias.
Já lá vão 20 anos e as mentalidades foram mudando, talvez seja esta a razão por que não ouço falar sobre este livro....
Ou, então, outros livros ocuparam lugar de destaque no que diz respeito a polémica.
Para quem não o leu, narra a história e vivência de Jesus como ser humano, com defeitos e virtudes (mas são as virtudes que prevalecem), com dúvidas e convicções, teimosia e medo...
Saramago apresenta-nos José e Maria, um jovem casal como outros na Galileia, e que virão a ter um primogénito chamado Jesus e mais quatro(?) filhos. É muito interessante ver estas e outras figuras transformadas em personagens literárias, sendo homens e mulheres, humanos...
A partir de certa altura, a narrativa é mais complicada, obriga a maior atenção, reflexão, acabando por nos envolver. Porque existe sempre uma parte de nós que não fica indiferente, que vai de encontro àquilo que muitas vezes também imaginamos, duvidamos...
Não achei nada ofensivo, sarcástico. Dei algumas gargalhadas, é muito criativo.
Depois de alguns dias à beira-mar, estou novamente por cá. Já tinha alguma saudade e curiosidade em usar e espreitar o que envolve esta ferramenta... Mas, enfim, não é coisa sem a qual não possa sobreviver...
Queria aqui exprimir a tristeza, a saudade que já sinto das palavras certas que identificam nossos pensamentos, devaneios, os sonhos, a vida... só ele o sabia fazer como que tudo surgisse ao correr da "pena", sem esforço algum. E a nós... obriga-nos a estar atentos, porque os diálogos sucedem-se como que sejam de forma oral, sem o dito travessão, ponto de interrogação... com que ele tanto embirrava! Agora, resta-nos a obra.
Os dois últimos livros são muito diferentes dos outros já publicados. Não gostei tanto... Mas não deixam de fazer parte da minha pequena biblioteca. É, sem dúvida, José Saramago o escritor que mais se destaca, olhando na perspectiva de número de livros por autor.
Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.
Excerto do livro Levantado do Chão, Pág. 59, Editora Caminho
Como não consigo escolher um livro que seja "o livro da minha vida"... até a literatura considerada para a infância, alguma dela, me fascina... lembrei-me publicar neste post a mensagem que o autor deste livro colocou na contracapa.
E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?