Assim vai a natureza por terras de Fafe. À minha espera, não esteve porque sobreviveu encantadora sem os meus cuidados.
Quem por lá passa delicia seus sentidos e algo mais para além do gosto ou prazer... Bem, cada um poderá definir a seu "bel prazer"...
Lembranças, nostalgias, estórias de criança/adolescência, a casa grande, a minha mãe e irmãos, a hora da rega, o dia a anoitecer... Por que razão estas hidrângeas estão neste lugar... Coisas de alma (?). Consciência...
O mês de Maio está aí e o meu aniversário já começa a acenar em forma de número bem redondinho.
Por mais que me concentre, não vejo, não sinto, não escuto o que dizem ser a terceira idade.
Penso... Será que vivo envolvida nos jogos de Maya... Estou viciada, acomodada, o sol não é o Sol, o que vejo é ilusão, sou cega para a realidade?... Talvez. Sim...
Bem... Se aconteceu ou não ilusão, ontem, paralisei alguns momentos, para memória futura, e para comemorar o 500.° post do meu blogue.
Tchim... Tchim... A nós... A Natureza. E venham mais 500.
Que aborrecimento... Ser picada, sabe-se lá por quem , (por seres invisíveis, por falta de atenção, por não saber observar...), nas pernas, nos braços e com necessidade de tratamento; já começa a ser habitual.
Fim de semana a apanhar algumas castanhas, abrindo ouriços, picando os dedos... Entre ouriços de castanhas perdidas, um grande ouriço abria e fechava dois buraquinhos, os olhos, tão discreto que, se não fosse o meu "armazenamento em memória" desde o tempo de criança, não o reconheceria- o ouriço-cacheiro. Permaneceu tão imobilizado que seria difícil apercebermo-nos dele.
Mais perto de casa, entre uma trepadeira e outras plantas de jardim, num tronco apodrecido, uma "montra" de pãezinhos de leite e de alfarroba.
Parece. :))
Desloco-me mais uns metros e visualizo umas florzinhas também elas guardadas na caixinha da memória . Tão lindas e subtis...
Não usamos herbicidas, talvez a razão de ainda existirem.
Nome?- Não sei.
Claro que não poderia deixar de encontrar os santieiros (cogumelos, frades...) . Bem, não fui eu que os encontrei, essa perícia nunca existiu em mim. Mas cozinhei-os e saboreámos o petisco, também ele elaborado como nos tempos de criança.
A atenção depressa se dispersa, e já me ia esquecendo dos medronheiros que foram transplantados neste local. Na altura, foi uma aventura. É um planta protegida e foi complicado transportá-la desde a minha terra natal, aonde tínhamos várias nos terrenos perto do rio, para esta, que é a do meu M. As plantas não aceitaram a mudança, foram dadas como mortas, as folhas caíram, os ramos desnudaram-se... Eu não queria acreditar. ..
Mas uma excelente poda e, sempre, bem regadas com muito carinho, sobreviveram e estão carregadas de frutos.
E um verdadeiro arranjo campestre que eu adoro. Em 30 segundos ficou pronto e transportei-o para cá, para a cidade onde moro, feito com arbustos e abóboras lá do local.
Um dia, fizeram a viagem da minha terra natal para este local, que era um pinhal, e que deixara de o ser.
As árvores (pinheiros) foram cortadas para que este espaço junto à nova casa/alpendre ficasse limpo, por causa dos incêndios e também para efectuar algum dinheirito.
Entretanto, nasceram, espontaneamente, um grupo de pinheirinhos bem ordenado, mais alguns carvalhos, castanheiros, giestas... E nós plantámos uma aveleira, mais carvalhos, azevinhos, um cedro, uma palmeira e dois medronheiros, os tais que viajaram da minha terra natal para este local.
Já lá vão cinco, seis anos, talvez, eis um dos medronheiros e um cacho de medronhos.
Há histórias de vida tão simples a acontecer, e que nos deixam felizes, só precisamos de saber valorizar.
Este ano não encontrei muitas flores pelo campo. O Abril está pouco florido. A chuva e o frio não têm ajudado as plantas espontâneas a vestirem-se de gala. São as minhas preferidas, as espontâneas...