Uns dias em S.Miguel, Açores. Instaladas num hotel em Ponta Delgada, agradável e bem situado, fizemos o máximo proveito da estadia. Eu já conhecia, mas viajar com amigas, as do costume, é diferente, mais divertido, no final sentimo-nos cansadas, mas felizes e mais revigoradas. Não há stress com o horário das refeições, nem esquisitices com a escolha do menu... É só viajar, viajar, conhecer, deliciar com as paisagens, e esquecer que existe mais vida para além do que flui em nós 🥰.
No domingo, véspera de S. Martinho, subentendia-se que poderíamos pré-festejar comendo castanhas. Mas não, na verdade não se proporcionou. Festejos de dois aniversários, com tudo o que faz parte, e muito pessoal, jovens e menos jovens, muitas conversas, risos... Muito.
Eu chegara de Budapeste no sábado, perto da meia-noite. Cansada. Então, não deveria estar a fazer frete?!...
Entre os meus, em local onde se encontram minhas origens/raízes, sonhos, memórias... E, quando assim acontece, a energia não se esgota.
Quanto ao vinho, não faltou, eu é que não provei. Ainda de ressaca, por causa da viagem, claro ;)
Lá, mais abaixo, perto do pequeno rio, alguns registos.
Fim de semana a apanhar algumas castanhas, abrindo ouriços, picando os dedos... Entre ouriços de castanhas perdidas, um grande ouriço abria e fechava dois buraquinhos, os olhos, tão discreto que, se não fosse o meu "armazenamento em memória" desde o tempo de criança, não o reconheceria- o ouriço-cacheiro. Permaneceu tão imobilizado que seria difícil apercebermo-nos dele.
Mais perto de casa, entre uma trepadeira e outras plantas de jardim, num tronco apodrecido, uma "montra" de pãezinhos de leite e de alfarroba.
Parece. :))
Desloco-me mais uns metros e visualizo umas florzinhas também elas guardadas na caixinha da memória . Tão lindas e subtis...
Não usamos herbicidas, talvez a razão de ainda existirem.
Nome?- Não sei.
Claro que não poderia deixar de encontrar os santieiros (cogumelos, frades...) . Bem, não fui eu que os encontrei, essa perícia nunca existiu em mim. Mas cozinhei-os e saboreámos o petisco, também ele elaborado como nos tempos de criança.
A atenção depressa se dispersa, e já me ia esquecendo dos medronheiros que foram transplantados neste local. Na altura, foi uma aventura. É um planta protegida e foi complicado transportá-la desde a minha terra natal, aonde tínhamos várias nos terrenos perto do rio, para esta, que é a do meu M. As plantas não aceitaram a mudança, foram dadas como mortas, as folhas caíram, os ramos desnudaram-se... Eu não queria acreditar. ..
Mas uma excelente poda e, sempre, bem regadas com muito carinho, sobreviveram e estão carregadas de frutos.
E um verdadeiro arranjo campestre que eu adoro. Em 30 segundos ficou pronto e transportei-o para cá, para a cidade onde moro, feito com arbustos e abóboras lá do local.
Nem sempre o que parece é. À primeira vista, parece ver-se o reflexo do sol a esconder-se no mar... Até pode haver interferência, mas os tons azulados que vislumbramos ao fundo, é o conjunto de ténues montanhas que se estende para lá de tudo, parecendo unir-se ao friso alaranjado do céu.
Na autoestrada, entre Terras de Basto e Fafe, na serra da Lameira, já anoitecia.
Com o carro em andamento, usufruímos do espectáculo.
Um dia, fizeram a viagem da minha terra natal para este local, que era um pinhal, e que deixara de o ser.
As árvores (pinheiros) foram cortadas para que este espaço junto à nova casa/alpendre ficasse limpo, por causa dos incêndios e também para efectuar algum dinheirito.
Entretanto, nasceram, espontaneamente, um grupo de pinheirinhos bem ordenado, mais alguns carvalhos, castanheiros, giestas... E nós plantámos uma aveleira, mais carvalhos, azevinhos, um cedro, uma palmeira e dois medronheiros, os tais que viajaram da minha terra natal para este local.
Já lá vão cinco, seis anos, talvez, eis um dos medronheiros e um cacho de medronhos.
Há histórias de vida tão simples a acontecer, e que nos deixam felizes, só precisamos de saber valorizar.
No campo, por vezes, acontece um misto de tudo o que nos faz bem.
Beleza, envolvimento, prazer, satisfação. Não estivesse o campo mais ligado à vida, à realidade e simplicidade das coisas...
O céu como abrigo, noite e dia, cintilante e silencioso.
Mas desengane-se quem pensa que é só relaxar. Há sempre muito trabalho a fazer e a organizar.
Lá diz o ditado, em Outubro sê prudente: guarda pão, guarda semente.
No nosso tempo, a oferta de mercado é tanta que já não necessitamos de ser assim tão prudentes. Por uma questão de economia e não gostando de desperdiçar aqueles produtos que têm menor durabilidade, dediquei-me a fazer compotas, concentrado de tomate e alguns congelados.
O resto está sendo guardado, naturalmente, de modo a conservar o máximo de tempo para ir sendo utilizado até às próximas colheitas...
Também é delicioso sentir estes sabores do campo pairarem pela cidade.
Devido ao post da Samantha, quero acrescentar. Principalmente, na época da colheita, que vai sendo quase todo o ano, depende do que é próprio de cada estação, distribuímos alguns produtos alimentares por várias famílias cá da cidade. Famílias não referenciadas, nossos vizinhos e até amigos. Devido à crise de emprego, os filhos voltaram a casa dos pais, alguns já casados e também eles com filhos...
Na aldeia, desconhecemos essa necessidade, as pessoas convivem mais de perto e entreajudam-se. São costumes e tradições de louvar.
Nada de importante. Nada que apeteça e valha a pena partilhar. A escrita das palavras fica tão vazia!!!...
O mês de Setembro quase a terminar, vagaroso... E eu continuo igual a ele, ao Setembro, lenta, e, também, ocupada, receosa...
Já é Outono, e de novo sinto esperança... A tal que eu não gosto nada de sentir. Não é culpa do Outono, mas da vontade que tenho em que tudo se resolva por bem... Tento apoiar do jeito que sei e posso. Ajuda-me a repensar a vida e as fragilidades próprias de cada um. Mas cada pessoa tem a responsabilidade de se cuidar para que não sobre sofrimento para os outros.
Só temos uma vida. Acredito. E há que aproveitar. Coisas boas e más, quem as não tem? Pois... Até reinventámo-las.
A minha filha mais velha está por cá. Anda stressada pelo corropio de visitas e afins de que somos constantemente invadidos ou requisitados. Quase sempre do meu lado familiar.
Sempre diziam tão bem dos elementos da minha árvore, mas começaram a mudar de opinião. Que somos uns mimalhinhos, comparados com a família do lado do pai.
Eu sei que não é verdade. Somos mais intensos, mais humorados e somos mais!... Só isso.
Andando eu alerta, devido a certos acontecimentos, há pouco tempo, passou-se o seguinte: o meu telefone tocou três noites seguidas, a horas pouco convenientes. De todas as vezes foi engano. A 1ª. vez, fiquei super aflita. A 2ª., agradeci por ser engano, a 3ª., idem... idem...
Logo, a culpa foi toda minha... Porque andava tão preocupada e ansiosa que até atraí todos esses telefonemas... Segundo elas (as filhas).
Citando Saramago:
"As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam..."