Qualquer dia serei saneada da cidade que me acolheu há já 45 anos.
Mais uma vez, o campo... Não contenho as emoções quando o visito. As cores no pisar das folhas, as cores, ao redor, nos frutos maduros e nas flores, os carvalhos centenários despindo-se devagarinho e, claro, a variedade de tons e o anoitecer despertam o lado "natural" que tanto aprecio na Natuteza.
Preparei me para a viagem sem grande expectativa... O pequeno grupo, (uma amiga, sua filha e neta) convidou-me para esta aventura.
Era tentador, o convite; simpático e amigo, o grupo; e por tudo isto valeria a pena conhecer esta cidade.
E não me enganei. Divertimo-nos bastante e aproveitámos bem o tempo, apesar das nossas diferenças quanto a faixas etárias 🥰.
Só choveu um dia. Andámos muito a pé... Cruzámos com gente simpática, à exceção dos dois motoristas que nos levaram do aeroporto ao hotel e depois, à vinda, do hotel ao aeroporto.
Uns dias em S.Miguel, Açores. Instaladas num hotel em Ponta Delgada, agradável e bem situado, fizemos o máximo proveito da estadia. Eu já conhecia, mas viajar com amigas, as do costume, é diferente, mais divertido, no final sentimo-nos cansadas, mas felizes e mais revigoradas. Não há stress com o horário das refeições, nem esquisitices com a escolha do menu... É só viajar, viajar, conhecer, deliciar com as paisagens, e esquecer que existe mais vida para além do que flui em nós 🥰.
No domingo, véspera de S. Martinho, subentendia-se que poderíamos pré-festejar comendo castanhas. Mas não, na verdade não se proporcionou. Festejos de dois aniversários, com tudo o que faz parte, e muito pessoal, jovens e menos jovens, muitas conversas, risos... Muito.
Eu chegara de Budapeste no sábado, perto da meia-noite. Cansada. Então, não deveria estar a fazer frete?!...
Entre os meus, em local onde se encontram minhas origens/raízes, sonhos, memórias... E, quando assim acontece, a energia não se esgota.
Quanto ao vinho, não faltou, eu é que não provei. Ainda de ressaca, por causa da viagem, claro ;)
Lá, mais abaixo, perto do pequeno rio, alguns registos.
Fim de semana a apanhar algumas castanhas, abrindo ouriços, picando os dedos... Entre ouriços de castanhas perdidas, um grande ouriço abria e fechava dois buraquinhos, os olhos, tão discreto que, se não fosse o meu "armazenamento em memória" desde o tempo de criança, não o reconheceria- o ouriço-cacheiro. Permaneceu tão imobilizado que seria difícil apercebermo-nos dele.
Mais perto de casa, entre uma trepadeira e outras plantas de jardim, num tronco apodrecido, uma "montra" de pãezinhos de leite e de alfarroba.
Parece. :))
Desloco-me mais uns metros e visualizo umas florzinhas também elas guardadas na caixinha da memória . Tão lindas e subtis...
Não usamos herbicidas, talvez a razão de ainda existirem.
Nome?- Não sei.
Claro que não poderia deixar de encontrar os santieiros (cogumelos, frades...) . Bem, não fui eu que os encontrei, essa perícia nunca existiu em mim. Mas cozinhei-os e saboreámos o petisco, também ele elaborado como nos tempos de criança.
A atenção depressa se dispersa, e já me ia esquecendo dos medronheiros que foram transplantados neste local. Na altura, foi uma aventura. É um planta protegida e foi complicado transportá-la desde a minha terra natal, aonde tínhamos várias nos terrenos perto do rio, para esta, que é a do meu M. As plantas não aceitaram a mudança, foram dadas como mortas, as folhas caíram, os ramos desnudaram-se... Eu não queria acreditar. ..
Mas uma excelente poda e, sempre, bem regadas com muito carinho, sobreviveram e estão carregadas de frutos.
E um verdadeiro arranjo campestre que eu adoro. Em 30 segundos ficou pronto e transportei-o para cá, para a cidade onde moro, feito com arbustos e abóboras lá do local.
Nem sempre o que parece é. À primeira vista, parece ver-se o reflexo do sol a esconder-se no mar... Até pode haver interferência, mas os tons azulados que vislumbramos ao fundo, é o conjunto de ténues montanhas que se estende para lá de tudo, parecendo unir-se ao friso alaranjado do céu.
Na autoestrada, entre Terras de Basto e Fafe, na serra da Lameira, já anoitecia.
Com o carro em andamento, usufruímos do espectáculo.
Um dia, fizeram a viagem da minha terra natal para este local, que era um pinhal, e que deixara de o ser.
As árvores (pinheiros) foram cortadas para que este espaço junto à nova casa/alpendre ficasse limpo, por causa dos incêndios e também para efectuar algum dinheirito.
Entretanto, nasceram, espontaneamente, um grupo de pinheirinhos bem ordenado, mais alguns carvalhos, castanheiros, giestas... E nós plantámos uma aveleira, mais carvalhos, azevinhos, um cedro, uma palmeira e dois medronheiros, os tais que viajaram da minha terra natal para este local.
Já lá vão cinco, seis anos, talvez, eis um dos medronheiros e um cacho de medronhos.
Há histórias de vida tão simples a acontecer, e que nos deixam felizes, só precisamos de saber valorizar.