Elas (as pessoas grandes) adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, as pessoas grandes jamais se interessam em saber como ele é... (...) Mas perguntam, qual é a sua idade? Quantos irmãos tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai? Somente assim elas julgam conhecê-lo.
Diversas vezes precisei de ajuda para refletir, neste ou naquele momento, sobre valores que falam tão alto... Não poderia esquecer esta obra (intemporal) e alguns dos seus excertos. O excerto acima relembro-o a cada dia.
Na era das estatísticas, das audiências, dos números, segundo isto e segundo aquilo, muitas das vezes, verificamos que o mais importante é o consumo, é a quantidade, é o número, enfim... O ter sobre o ser.
Algum tempo havia passado sem que visitasse o pequeno lugar para onde transferira algumas das suas memórias e, assim, compusera o tal recanto como que de uma emergência se tratasse.
Era véspera do dia dezanove, quer dizer: do dia do pai e do 2.º mês do falecimento de sua mãe.
No pequeno terreiro, rodeado de recantos ajardinados, há restolho espalhado por todos os lados. Atravessou-o em passos largos até um dos lados do retângulo da eira, onde fica a porta de entrada, e poisou os sacos das compras. Porque, afinal, era já hora de fazer o almoço. Depois, dirigiu o olhar para onde havia jardim e caminhou em direção ao muro sobranceiro ao tanque. Aí, imobilizou-se. Seu olhar ficou toldado. As lágrimas teimaram, e quase todo o dia por lá ficaram. As japoneiras, afinal, estavam muito coloridas: brancas, vemelhas, rosas... E ela que pensara que este ano não floririam, as japoneiras. A sua mãe. As japoneiras de casa de seus pais. Seu pai e sua mãe. Agora juntos para sempre. Para sempre.
Debruçou-se sobre elas e, minuciosamente, observou-as. As camélias brancas, tão lindas, bem formadas, pequeninas. Quase que lhes pediu desculpa por não acreditar nelas. As cor de rosa sobrecarregavam a árvore, parecendo-lhe que pediam ajuda para as aliviar. As vermelhas, de tamanho médio, compostas de múltiplas pétalas, também estavam harmoniosamente formadas e distribuídas. Acariciou-as ao de leve. Cortou botões e flores. Limpou-lhe as folhas e esgaravatou a terra junto à raiz.
Que pena! Não há registos fotográficos. Mas tudo se gravou em automático. Com sons e cheiros. Lágrimas. Saudades.
E foi deste modo, o espírito dividido entre o passado e o presente, a esperança e a inquietude, confuso, que vagueou o maior tempo.
Promete não haver descontrolo e libertar-se destes domínios mentais ou conflitos interiores que a ocupam em demasia. E também deseja que todos os descendentes de seus pais tardam a sua partida para o encontro final.
Um programa entre amigos foi o que aconteceu. Rumo ao Alentejo com hospedagem em Vila Viçosa. Dias quentes, noites bem fresquinhas e aromatizadas pelas imensas flores de laranjeira, pois, é esta a árvore que embeleza e preenche as ruas desta vila.
Reguengos, Monsaraz, Aldeia da Luz, Alqueva, Borba, Estremoz, Évora... Alguns dos locais por onde almoçámos, jantámos, e, principalmente andámos à descoberta.
Quase nada de compras. Um chapéu, um cinto, um biquini, meias... Coisas necessárias para todo o grupo. Visitas de conhecimento e reconhecimento. História, património, paisagens... Principalmente paisagem natural. Fotografias atrás de fotografias. Conversas animadas, risos e sorrisos, olhares de encantamento.
O Alentejo está verde e florido. Parece o Minho, diziam os minhotos. Parece Trás- os- Montes, diziam os transmontanos. Mas a vista a 360º, sem uma montanha a esbarrar-nos o olhar, a terra e o céu a unirem-se e a confundirem-nos os sentidos, acontece a cada passo de qualquer ser que ainda se deslumbre com estas coisas tão maravilhosas e que nos são "irreais" no nosso dia a dia.
Tudo o que fazemos reflecte uma parte de nós. Podemos querer disfarçar, iludir, mas há atitudes que nos vão definindo.
Penso que todos nós procuramos saber quem somos, qual o nosso eu verdadeiro. A nossa consciência das coisas e de nós, desapegadas do ego que, constantemente, toma e ocupa a nossa mente e que nos convence que é assim que somos. Até nos faz sentir envaidecidos...
Quem ainda não se sentiu doente por tanta incapacidade, tanto egoísmo, por nada fazer?...- Eu já, e muitas vezes!
Neste tempo, não basta dizer ou alertar. É necessário "tomar decisões", fazer, remediar, reconstruir...
Temos de mudar nossas mentalidades.
Aconselho a clicar neste link e ver o vídeo até ao fim.
De sábado para domingo não dormimos, fizemos uma directa, pois o avião saiu de Israel à 1,30H, chegámos a Bruxelas por volta das 5H e esperámos 7H pelo avião para o Porto... Que dirão as pessoas que rondavam os 80 anos?!... Se calhar é uma questão de paciência...
Conheci gente interessante que fazia parte do nosso grupo. Um casal, médico e enfermeira, ainda em funções, ele com 78 anos e ela com 72. Simpáticos, viajados, cheios de estórias de fronteiras e aeroportos, de filhos e netos.
Também conheci gente pouco interessante, um diz que disse, que de tudo duvidava, e de todos falava...
De tudo ouvi, apenas tentei escutar os sons e silêncios dos que transmitiam boas energias, saberes e estórias de vida. "A vida não tem sido só rosas", mas dito com um sorriso e um olhar terno. E já o avião se preparava para aterrar. Mais uma vez os dois deram as mãos, entrelaçaram os dedos e ele sorrindo: "é para dar sorte".