Poema Nu e Cru
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Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis, 1-7-1916
Uma amiga enviou-me este poema, depois de ter visto as minhas fotos das couves no Facebook...
É lindo!
Vegetal
Nasceu de uma semente delicada
foi criada
com mimo. Defendida
do vento e da geada.
Para ter melhor vida
foi mudada
e cresceu.
Ofereceu à madrugada
folhas frescas
e vivas como asas.
Sim
é uma planta
e também dá flor.
E as borboletas
também lhe dão amor
embora sem perfume
e desmaiada a cor
da flor.
Mas
que tristeza.
Ninguém lhe quer a flor
ninguém lhe acha beleza.
Cortam-lhe as filhas.
Essas
Vão à mesa
mas não para enfeitar:
para comida.
Mas
se acaso se queixa
quem na ouve?
Ela não tem prestígio:
Não é rosa nem árvore.
É couve.
Alice Gomes, " Bichinho Porta".
* as couves e eu pelo campo...
Em oração agradeço...
O que conheci, vivenciei, aprendi.
Tudo o que amei.
O que me contagiou
coisas boas, menos boas
que me edificaram
me construíram assim
com espanto, respeito
e amor.
E o que me inculcaram
o que me impuseram
o que tentam impingir...
Nada relevante
não endureceu, nem delimitou
nem cheiro, nem gosto
nem qualquer um dos sentidos.
Apenas resquícios
que surgem ao de leve
de quando em vez
mas que não se propagam
nem contaminam os meus
e os vossos sentires...
* Árvores, raízes... meus frutos.
Sinto-me um equilibrista
quase iniciante
pé no chão, pé no ar
bracejar informe tacteando
o espaço vazio,
irregular, escorregadio...
Pé ali, pé acolá,
na forma do mundo
tento enformar
no melhor desenho, na melhor figura
ou no melhor estilo...
Olhando para trás,
rio e entristeço
das manchas tingidas
a preceito ou não...
Quem moldou as formas do mundo?
Onde vagueiam seus autores?
Andar periclitante,
carregando o universo,
ombros rígidos, cabeça estonteante,
lá vou eu, sem rei nem roque,
na onda do tempo, na brisa do calor,
no esvoaçar das folhas...
Envolvida pelo manto da montanha,
coroado de estrelas ou de pedregulhos,
sonâmbula, atravesso o universo,
à pressa, sem destino
ou, quem sabe,
seguindo o traçado invisível
que eu, tonta, penso
ter inventado...
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