Cessaram as palavras
As palavras já foram rio e mar
e corriam cristalinas, revoltas
ensurdecedoras e agitadas
acariciando-nos na sua passagem...
Já foram montanhas majestosas
rodopiando de cume em cume
frescas, arejadas, envolvendo as encostas
e caindo de cansaço a seus pés...
Já foram vales, as palavras.
Suaves, aquecidas, verdejantes
floridas, polinizando ao redor
e inebriando os sentidos...
Já foram céus, as palavras.
Cintilantes de esperança
azuis, desenhadas de estrelas
e sonhando-te para sempre.
Agora, dissolveram-se nas correntezas
e atordoaram-se de cansaço
deslizando pelas encostas.
Nos vales, endurecidas, vestiram-se
de branco salitre...
E pálidas, lá nos distantes céus
perderam-se de vista.
Como placebo, iludindo o estado natural
o tempo e o caminhar, vejo-as
sem validade, as palavras...