Há pouco, encontrei este objecto abandonado. E, ao vasculhar no baú de memórias adormecidas, reli uma historiazinha idêntica a muitas que existem por aí. Com certeza.
Há muito, muito tempo... Era uma vez...
Ela passava pelo tempo (ou o tempo por ela?) em correria desenfreada, atropelando-se em acontecimentos inesperados, conseguindo enganar gripes, constipações e, ainda mais grave, a si mesma.
Um dia, a filha mais pequenina adoeceu e ficou uns dias em casa.
Observava fotos de seus pais em casamentos e outras festas. De repente, iniciou um choro contínuo. Dizia que queria a mãe, que ela estava triste, que o pai estava a sorrir... Lá, nas fotografias.
Para convencê-la de que não era verdade... Que eram só fotos... Parece que demorou algum tempo.
Então, aconteceu algo. Pequenino, em comparação com a agitação dos primeiros anos de casados. Clarificaram um pedacinho do modo de vida. Abaixo a hipocrisia!
Participar em eventos, juntos, sim, quando os dois eram parte desse acontecimento (de familiares e amigos). Não por ela ser esposa de Fulano ou ele ser marido de Cicrana.
Assim, foi dado um pequeno passo na liberdade individual, e um grande passo na liberdade do casal.
E alguns registos fotográficos passaram a ser mais autênticos. :)
Hidrângea (hortênsia), uma das muitas plantas e flores que minha mãe sempre estimou. Adornava os espaços em redor da casa, junto ao tanque, eira e alpendres. Nessa época, reflectiam frescura, beleza e alegria ao ambiente. Minha mãe sempre procurava as que dariam flores rosa, lilás ou brancas, mas raras vezes acontecia, desabrochavam azuis...
À noite, a criançada numa correria regava o jardim, eram baldes e baldes de água! O que estava à entrada da casa, junto aos alpendres e ao tanque, era regado com mangueira, mas o que contornava a parte trás da casa e do lado da eira... esse sofria mais, ele (o jardim) e nós, porque quando lá chegávamos o balde já só ia meio e nós estafados...
Procurei saber mais sobre as hidrângeas ou hortênsias: variam nas suas cores devido ao índice de acidez e alcalinidade dos solos. Solos ácidos, PH abaixo 6,5- flores azuis. Solos alcalinos, PH acima de 7,5- flores rosadas e brancas. O que quer dizer que poderemos substituir a terra ou regá-la com certos "preparados", para que tenhamos as cores que pretendemos. São outros tempos!...
Estas ainda estão no vaso de origem, o que acontecerá quando forem transplantadas para a terra de jardim?
Os últimos dias aproveitei para sair e colocar alguns afazeres em ordem.
Uma das saídas foi até à minha terra natal. Houve sardinhada e barriguinhas à disposição e o convívio com alguns dos familiares é sempre muito agradável.
Recordámos brincadeiras de criança. Passeámos por caminhos e carreiros de terra batida e ervas daninhas... E os cheiros característicos daqueles locais... capazes de fazerem estremecer ou emocionar até às lágrimas. O alecrim, a alfazema, o louro, o pinheiro...
O "marulhar" das águas do rio, por entre os penedos curvilíneos, mostrando a firmeza de outrora, por onde pezinhos descalços atravessavam da margem esquerda para a direita.
Tudo ali se encontra, como que... à nossa espera.
E os banhos nos lagos revestidos de areia branca e rochas, cheios de água cristalina, e peixinhos escondidos nos recantos mais sombrios... E, nós lá ficávamos mergulhados, quietos, à espera que eles nos viessem picar e, então, tentávamos "pescá-los" à mão.
Eram as longas férias de Verão! E este era um dos nossos passatempos.