Andava eu numa grande superfície, à procura do local onde estariam as embalagens de sopa bio... Quando vejo uma suposta funcionária, a empurrar um carrinho, a colocar uma embalagem num expositor, de boné e camisa de cor branca, bem folgados... Pergunto-lhe se trabalha ali; rapidamente nega com um movimento de cabeça, sorriso de lábios apertado... Peço desculpa, mas não sei bem porquê... E ainda digo que procuro as sopas... Ela já não me ouve, segue indiferente... Vejo-a de costas, fico parada, e um pouco constrangida...
Mas qual o problema?...
Refleti, cheguei à conclusão que o problema deve ser meu. Por ficar ofendida pela atitude da menina.
Segui o meu instinto ou seria intuição?... E, eureka, encontrei o que desejava.
Agora, uma reflexão de Marco Aurélio:
"Se está sofrendo por coisas externas, não são elas que te estão perturbando, mas o seu próprio julgamento sobre elas..."
"... A maior arte das coisas que dizemos e fazemos não são necessárias. Se conseguires eliminá-las, terás mais tempo e tranquilidade. Pergunta-te a cada momento: «Isto é realmente necessário?»..."
Marco Aurélio (Imperador Romano)- Do livro, Meditações
*entardecer em Moscoso, Cabeceiras de Basto, em 29 Dezembro, 2019
A inspiração já não é o que era. Brotava do nada. Não faltavam oportunidade e vontade para estes momentos de escrita. Um retiro nos meus aposentos, sem que alguém me interrompesse, um passeio ao ar livre, uma observação aos corpos cintilantes que nos abrigam, à noite, uma leitura, uma situação do dia a dia... eram ideais para que, avulso, e ao correr da pena, as palavras saíssem, soltassem.
Vamo-nos modificando. Dias e anos sucedem-se e tanto mudou. A pintura e a fotografia, os meus hobbies, desvaneceram. A leitura, também, estremeceu, mas por pouco tempo, e as viagens surgiram e têm comandado a minha maior vontade.
Quem sou eu?... O que faço aqui? ... ( não é o "depois do adeus") As interrogações de menina continuam.
Para que escrevo? ...
O tudo avulso resta-me como um acontecimento sem data e hora marcadas. Uma apatia de escrita, embora, um turbilhão de ideias percorra e estremeça o meu ser. Sempre a querer selecionar. Isto não, nem isto, nem aquilo...
Depois de escrito, deve sair, imediatamente, porque, se ficar guardado na "gaveta", no dia seguinte, segue para o lixo. Nada de importante.
Vocês, também sofrem do mesmo? Ou poderei dizer que será um modo de economizar o meu e o vosso tempo?
Por inspiração do Sapo sobre as leituras para este verão, para já, aqui estão 3 dos livros que me comprometerei a fazer a leitura e as devidas reflexões.
Iniciei "O Sentido Oculto da Vida".
E porque também me relaxa, alguns momentos captados, no último fim de semana, ao entardecer, no campo, depois de regar os espaços, que são parte da minha responsabilidade .
Com o passar do tempo, é suposto irmos amadurecendo. Concordo que são os "sopapos" da vida que nos fazem crescer em maior velocidade, quando não dão para deprimir...
Este ano, de 2018, foi como um querer virar de página, trocar de livro, ou de história, mudar de rumo... Isto, devido ao ano que o antecedeu, o 2017. Com certeza, nunca o esquecerei... Porque é de bom grado lembrar os entes queridos que já partiram.
Apesar de sempre me ter considerado atenta, penso que, este ano, a minha atenção redobrou. Parece paradoxo, mas, por uma questão de saúde mental, comecei por ouvir, ler, escrever, e, talvez, falar muito menos do que era habitual. Para que, apenas, o "essencial" me ocupasse os pensamentos, não me desgastasse, não me distraísse, inutilmente. Tentei usar filtro. Nem sempre funcionou, mas o balanço foi positivo. Muito ficou por ultrapassar.
Os dias continuam, sucedem-se e, com certeza, lá chegarei.
Aproximava-se o tempo de natal e eu, insegura, esperava o acontecer.
Estratégias?... Nem por isso. Coração aberto, a atenção ligada, preparativos a decorrer, e, devagarinho, entrávamos no verdadeiro espírito de natal. Tenho a registar que tudo bem, obrigada. Harmonia, partilha, amor, alegria em quantidade(qb) :)
Planos para 2019?... De verdade, preferia, também, deixar que fosse acontecendo. Porque já me saí muito mal a fazer previsões.
Mas posso arriscar e desejar viver a vida, com muita saúde, muita sabedoria, logo, "desvencilhar-me" das adversidades...
Somos pecinhas tão fragéis, tão pequeninas deste imenso puzzle, e sei que criar grandes expectativas, comigo, não resulta. Pedir ou desejar não basta, não resolve, necessitamos de toda a força, toda a compreensão, toda a leveza, toda a sorte do mundo e para o mundo.
Então, boas atitudes! Porque as palavras não bastam.
Algum tempo havia passado sem que visitasse o pequeno lugar para onde transferira algumas das suas memórias e, assim, compusera o tal recanto como que de uma emergência se tratasse.
Era véspera do dia dezanove, quer dizer: do dia do pai e do 2.º mês do falecimento de sua mãe.
No pequeno terreiro, rodeado de recantos ajardinados, há restolho espalhado por todos os lados. Atravessou-o em passos largos até um dos lados do retângulo da eira, onde fica a porta de entrada, e poisou os sacos das compras. Porque, afinal, era já hora de fazer o almoço. Depois, dirigiu o olhar para onde havia jardim e caminhou em direção ao muro sobranceiro ao tanque. Aí, imobilizou-se. Seu olhar ficou toldado. As lágrimas teimaram, e quase todo o dia por lá ficaram. As japoneiras, afinal, estavam muito coloridas: brancas, vemelhas, rosas... E ela que pensara que este ano não floririam, as japoneiras. A sua mãe. As japoneiras de casa de seus pais. Seu pai e sua mãe. Agora juntos para sempre. Para sempre.
Debruçou-se sobre elas e, minuciosamente, observou-as. As camélias brancas, tão lindas, bem formadas, pequeninas. Quase que lhes pediu desculpa por não acreditar nelas. As cor de rosa sobrecarregavam a árvore, parecendo-lhe que pediam ajuda para as aliviar. As vermelhas, de tamanho médio, compostas de múltiplas pétalas, também estavam harmoniosamente formadas e distribuídas. Acariciou-as ao de leve. Cortou botões e flores. Limpou-lhe as folhas e esgaravatou a terra junto à raiz.
Que pena! Não há registos fotográficos. Mas tudo se gravou em automático. Com sons e cheiros. Lágrimas. Saudades.
E foi deste modo, o espírito dividido entre o passado e o presente, a esperança e a inquietude, confuso, que vagueou o maior tempo.
Promete não haver descontrolo e libertar-se destes domínios mentais ou conflitos interiores que a ocupam em demasia. E também deseja que todos os descendentes de seus pais tardam a sua partida para o encontro final.
Sempre achei esta capacidade minha bem desenvolvida: - Discernir.
Não sei o que pensarão os outros... Se pedisse provas disso a meus famliares e amigos chegaria a uma conclusão. Pouco interessa, não? E argumentar sobre isso seria falta de discernimento. Penso. Discirno.
Ela vai indo, esforçando-se e avançando para esquecer o que já esqueceu há muito, mas que a memória sempre a atraiçoa por trazer-lhe à tona alguns dos seus sonhos.
Sabe que outras batalhas se aproximam e que lá estará para empurrar com sua coragem e bravura obstáculos e medos. Não virará as costas a tempestades, renovará sua capacidade de amar e conquistar pequeninos/grandes desafios.
Há muito que sabe que a vida sempre se apresentou fácil para o que não pretendia e de grande luta para o que sempre sonhou.
Também sabe que morrerá na areia, talvez... Não por exaustão de tanto lutar, mas por não encontrar uma brecha por onde passar, pela incerteza da sua capacidade e por que assim o prefere.