Não pertence à aldeia onde já fotografei a cesta com flores espontâneas, a pereira no início de floração, as camélias caídas, as japoneiras floridas...
Este é um sítio onde, em alguns momentos, nos primeiros anos de vida, e, até mais tarde, o percorríamos, principalmente, em tempo de férias.
Agora, de longe a longe, abraço-o num olhar, escuto-o em memória e faz-me estremecer. Porque me envolve num mágico acontecer de guardadas lembranças.
O moinho junto ao meu pequeno rio. Não esquecido. Preservado como uma história.
Do rio para a levada e da levada para o rio, é o que acontece à água que não é necessária para regar os campos. "Antigamente", quando eu era nova, toda a água era precisa e não chegava para todos os cultivos. Os agricultores que usufruiam deste privilégio, de ter o rio como fonte de rega, não perdiam gota, àquela hora e minuto certos, corriam a abrir a comporta. A água inundava a terra sequiosa fazendo levantar os caules, ramos e folhas verdejantes que, mais tarde, dariam pão, feijão, batatas...
Dizem que estamos a caminhar para esse tempo, mas só o tempo o dirá... Que haja modernidade, mudança de mentalidades e... cá estaremos para dar a nossa sacholada.
Durante o percurso, alguém se aventurou a enfrentar o desconhecido... Pouca qualidade na gravação, mas dá para sentir toda a envolvência que a natureza proporcionou a este grupo. O pequeno rio é assim... Aos mais jovens, recarrega-os de energia, de respeito pelo que é belo e natural; aos mais velhos, enche-nos de paz, nostalgia e de tudo um pouco do que procuramos...
Os últimos dias aproveitei para sair e colocar alguns afazeres em ordem.
Uma das saídas foi até à minha terra natal. Houve sardinhada e barriguinhas à disposição e o convívio com alguns dos familiares é sempre muito agradável.
Recordámos brincadeiras de criança. Passeámos por caminhos e carreiros de terra batida e ervas daninhas... E os cheiros característicos daqueles locais... capazes de fazerem estremecer ou emocionar até às lágrimas. O alecrim, a alfazema, o louro, o pinheiro...
O "marulhar" das águas do rio, por entre os penedos curvilíneos, mostrando a firmeza de outrora, por onde pezinhos descalços atravessavam da margem esquerda para a direita.
Tudo ali se encontra, como que... à nossa espera.
E os banhos nos lagos revestidos de areia branca e rochas, cheios de água cristalina, e peixinhos escondidos nos recantos mais sombrios... E, nós lá ficávamos mergulhados, quietos, à espera que eles nos viessem picar e, então, tentávamos "pescá-los" à mão.
Eram as longas férias de Verão! E este era um dos nossos passatempos.