Em primeiro de tudo, quero dizer que, hoje, sonhei com o meu pai...
Muito raro sonhar. Não o reconhecia como um bom pai, principalmente, durante todo o meu crescimento até ao tempo que mudei de estado civil. Depois, fui mãe, uma, duas vezes e, pouco depois, ele adoecia e ficava com sequelas para o resto de sua curta vida.
Aos poucos, fui reconhecendo que ser pai "destes" seus filhos, não foi nada fácil...
Mês de Março. Mês de comemorações: Dia do Pai e seu Aniversário.
Então, depois das duas viagens por Marrocos, depois da aula de Filosofia prática, sobre o Egipto- A análise do Papiro de ANI- "o peso do coração do morto", e depois de ter tratado das lides domésticas... Adormeci, vagueei...
O chilrear dos pássaros, o barulho dos carros, as vozes ao longe... Um aperto no peito, o coração.
Acontecia o despertar, melhor, o adormecer. Lento...
Uma enorme tela pendurada, não sei se em uma parede, se no meio do nada, suspensa. Reconheci, de imediato, que era o Papiro de Ani. Num plano mais abaixo, alguns elementos moviam-se, uns estavam agitados, outros mais concentrados. Aí, vi o meu pai. Os deuses, os olhos da mente, (egoísta e pura) os braços da balança, a pena e o coração, cada um em seu prato. Senti-me angustiada! Estavam a pesar o coração de meu pai...
Na adolescencia, ela acreditava que o ano seguinte seria sempre melhor. Mas pelo desenrolar dos acontecimentos foi constatando que não era nada assim. E quando terminava o ano 2016, ela viu que o que aí vinha não era nada fácil.
Abertamente. Sem rodeios, sem tempo para acontecer, sem idade. Tudo escutado de uma só vez. Tão novo, tão teimoso, tão orgulhoso. Tudo em uma pessoa:- Anemia.Transfusão. Cancro.
E ela ficou atordoada durante uma semana. Esperando. Inactiva, em pressupostos procedimentos. Inquieta fisico, mental e psicologicamente. Ela limpava. Arrumava. Cada coisa a seu tempo e no seu lugar. Enganando-se. Em estado apavorado.
Outra semana se iniciava e já lá ia a meio. -Terrimm... Terrimm... Partiu sua mãe. Descansa em paz. Quis libertá-lo. Dar-lhetempo para se cuidar...
Já, há dias, tinha recebido uma mensagem de uma das filhas e que terminava com um smile: -"Vou ser despedida em meados de Fevereiro. Fim do contrato. Já sabia, pois tinha visto o anúncio para emprego neste meu lugar. Eles teriam de me contratar, agora,ao fim de 2 anos... "
Não a surpreendeu, não lhe causou tristeza. Afinal, aquele trabalho é tão sem futuro, apenas a ocupou durante dois anos. E qual é a mãe que não sonha com um emprego melhor para sua filha?...
A outra filha, depois de ter deixado a área de investigação, e ter optado pela área de restauro, também terminava o estágio. E há pouco, dizia: -"Eles empregar-me-iam, mas aquilo está tão mau, quase não ganhampara pagar a renda. Embora, esperem a cada momento, grandes restauros. Gosto deste trabalho!"
Também ela já sabia que esta sua filhinha é assim... As duas são queridas, responsáveis, inteligentes, o nosso país é que é uma merda!
A saúde individual, a vida e a morte, a doença já não dependem, directamente, de políticas, malabarismos, chefões.
É a vida a acontecer. A passar por nós...
Resta-nos: o deixar ir, deixar ser. Deixar a vida ser...
Aos poucos vou dando conta da razão por que tantos dos meus sonhos não se concretizaram. Não adianta querer arranjar bodes expiatórios, a verdade, mais cedo ou mais tarde, acaba por vir à tona.
Eis um dos meus sonhos irrealizáveis. Ser borboleta.
Esta semana tive um tempinho para me sentar entre elas e fotografar. Lindas!