Vida de Pai
Não se deve falar nem pensar mal das pessoas que já partiram. Vamos aprendendo que ninguém é perfeito e que as circunstâncias da vida, por vezes, fazem-nos mais carrancudos, impacientes e senhores do nosso nariz.
Ser pai de doze filhos é obra. E sendo a obra feita quase toda no masculino, pensava-se e dizia-se que ainda era muito mais difícil. Muiiito macho. Entretanto, descobriu-se que, afinal, é mesmo o pai que, em última instância determina o género do bebé. Mas o que interessa é que, naquele tempo, era competência do pai, somente, e ponto final.
Era com grande orgulho que nos dias de festa, Natal e Páscoa, os rapazes desfilavam por ordem decrescente de idade, escadas acima, em direcção ao coro da igreja. As mulheres jovens e não só, disfarçadamente, miravam a bela equipa de lindos e educados rapazes que, raras vezes, percorriam os caminhos da aldeia. Meu pai, nesses dias, também os acompanhava, e, com certeza, fazia-o a transbordar de alegria, orgulho e felicidade.
No final da missa, minha mãe não podia perder tempo com grandes esclarecimentos ao mulherio que a abordava para saber pormenores sobre os seus filhinhos. Sei que conversava com esta e aquela, alegre e apressada, porque havia o almoço próprio do dia, que só ela tão bem sabia confeccionar.
O que conversavam com o meu pai, não sei. Já seria conversa de homens... Ou não.
Um dia meu pai partiu... Pensava eu que não ia ser tão difícil, assim. Mas o mundo desabou. Aí, compreendi que a vida de pai não é nada, nada fácil. E que a vida sem ele nunca mais foi a mesma coisa.